No Complexo do Marromeu junto da Reserva Nacional do Marromeu, mais precisamente no Delta do Rio Zambeze, na Coutada Oficial número 11, a empresa Zambeze Delta Safaris (ZDS) com o apoio da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), realizou com sucesso, uma operação de translocação de onze chitas. Dez das Chitas são provenientes da África do Sul e uma do Malawi. Aqueles animais foram oferecidos a Moçambique por Parques e Reservas daqueles países da África Austral.
A translocação da Chita é um importante contributo para a conservação da natureza uma vez que no Complexo do Marromeu esta espécie estava extinta há mais de 30 anos. Financiada pela Fundação da Família Cabela (Cabela Family Foundation) dos Estados Unidos da América (EUA), a operação de translocação das Chitas constitui a maior realizada a nível internacional e envolveu 5 aviões e dezenas de profissionais de Moçambique, Africa do Sul e Malawi. Espera-se que dentro de 10 a 15 anos a população de Chitas no Complexo de Marromeu seja de mais de 100 indivíduos, podendo vir a ser uma das maiores concentrações em África.
As chitas enfrentam o risco de extinção devido às mudanças climáticas, caça ilegal e destruição do habitat, baixa taxa de natalidade como resultado de limitada variabilidade genética provocada por eventos anteriores próximos da extinção. Com menos descendentes, a população não pode crescer nem se adaptar às mudanças no meio ambiente, pelo que se torna ainda mais crítica a sua protecção.
A Chita (Acinonyx jubatus) de nome científico é o mamífero terrestre mais rápido do Mundo em curtas distâncias. Pode atingir entre 80 e 130 km/h em corrida. Uma Chita adulta pesa entre 21 e 72 kgs e pode atingir um comprimento de 1,1 a 1,5 m (Adulto, cabeça e corpo) e uma altura de 67 a 94 cm (Adulto, até ao ombro). Distingue-se pelo corpo esguio e pela linha negra em forma de lágrima, do canto de cada olho até à boca. O macho é maior do que a fêmea. Contrariamente à maioria dos felinos, tem garras expostas, fundamentais para a corrida em velocidade. É geralmente solitária, mas é frequente formarem-se pequenos grupos de machos irmãos que muitas vezes se mantêm juntos para a vida. A Chita procura abrigo junto da vegetação rasteira mais densa. Caça por perseguição em corrida e marca o seu território com urina.
A fêmea é poliéstrica, está receptiva em intervalos curtos de tempo, várias vezes por ano. Por ninhada, nascem em média 4 crias que são amamentadas durante cerca de 4 meses. Apesar dos cuidados da progenitora, a taxa de mortalidade das crias até aos 3 meses é muito elevada na natureza. Estima-se que tenha desaparecido em 76% da sua área de distribuição original. A caça ilegal, a perseguição, a perda do habitat e a redução de presas naturais são as suas principais ameaças. A Chita está incluída no apêndice I da Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies de Fauna e Flora Ameaçadas de Extinção (CITES) o que significa que, em Moçambique e ao abrigo da Lei de Protecção, Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Biológica (Lei 5/2017 de 11 de Maio), a sua caça, posse ou comércio não autorizados de qualquer das suas partes é ilegal e punível por lei com prisão que pode ir até aos 16 anos.
Não sendo relativamente territoriais, as Chitas terão o papel de manter o equilíbrio necessário dos rácios ideais de herbívoros de sua preferência em todo a Coutada e até mesmo no Complexo de Marromeu em suporte dos territoriais Leões e em beneficio dos necrófagos abutre e hiena.
De referir que em 2018 a Fundação da Família Cabela, financiou a translocação para a Coutada 11 de 24 leões. Aquela reintrodução terá contribuído para o aumento da população de Leões na Coutada 11, agora estimada em 70 animais.
O Complexo de Marromeu é um conjunto de áreas de conservação declarado sítio Ramsar, ou seja, uma terra húmida de importância internacional, localizado no distrito do mesmo nome. Foi registado pela Convenção RAMSAR em 2004. Cobrindo uma área de 6880 km², na margem sul do delta do Zambeze, o Complexo é formado pelas Coutadas Oficiais 10, 11, 12 e 14 e pela Reserva Nacional de Marromeu e está localizado na Província de Sofala. É limitado a sul pela escarpa de Cheringoma. O meio ambiente é muito variado, incluindo savanas, pântanos, florestas de miombo e mangais, proporcionando habitats para uma grande número de espécies, incluindo espécies protegidas.
A Coutada Oficial número 11, no complexo de Marromeu, uma área de cerca de 192.000 hectares. A área possui uma mistura de habitat desde floresta de miombo, savana, planícies de inundação (os famosos tandos de Marromeu, que se estendem por 30km, sem uma árvore, sendo planície apenas e finalmente, pântanos).
É possível contemplar na Coutada 11 os “Big 4”, nomeadamente Elefante, Leão, Leopardo e Búfalo. A área possui aproximadamente 250 espécies de pássaros e cerca de trinta espécies diferentes de mamíferos, em constante crescimento. Estima-se que a área possua um efectivo total acima dos 30.000 animais.
A Coutada Oficial número 11 recebeu em 27 anos, cerca de 1.500 turistas. A Coutada 11 tem 50 trabalhadores permanentes, 44% dos quais dedicados à proteccão, e 100 sazonais. A população humana nela residente é estimada em 2.000 pessoas, que têm beneficiado dos 20% das receitas da actividade turística, num valor médio anual de cerca de 2.5 milhões de Meticais. Os residentes da Coutada 11 beneficiam-se também do acesso à carne de caça obtida da actividade cinegética e da extracção controlada de espécies em abundância, conforme estabelecido na legislação sobre caça em Moçambique.
A Coutada Oficial é uma área de conservação de uso sustentável, de domínio público do Estado colocada sob gestão privada, delimitada, destinada a actividades cinegéticas (caça) e a protecção das espécies e ecossistemas, na qual o direito de caçar só é reconhecido por via do contrato de concessão celebrado entre o Estado (através da Administração Nacional das Áreas de Conservação – ANAC) e o operador e mediante quotas, aprovadas anualmente.