04-03-2021

Resultados preliminares sobre a causa da morte de 111 golfinhos no Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto

Na sequência da morte de 111 golfinhos, da espécie Stenella longirostris em dois incidentes separados, nos dias 21 e 23 de Fevereiro, no Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto, Henriques Bongece, Vice-Ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas, liderou uma missão intersectorial à Província de Inhambane, Distritos de Vilanculos e Inhassoro entre os dias 24 e 27 de Fevereiro de 2021.

Integraram a missão quadros do Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas, do Ministério da Terra e Ambiente, da Universidade Eduardo Mondlane e membros do Conselho Provincial de Representação do Estado de Inhambane.

Para além das observações realizadas in loco foram feitas várias consultas à rede de especialistas da região e internacionais nomeadamente: o Grupo de especialistas em Cetáceos da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN); da Comissão Internacional sobre baleias e do painel de especialistas em encalhamento para áfrica e Oceano Indico; bem como com a Coordenação para assuntos de encalhamento do IndoCet para a região do Oceano Indico e com a editora associada da Revista Científica sobre Mamíferos Marinhos.

Estes especialistas aconselharam sobre o tipo de amostras e informação a ser recolhida assim como sugeriram os laboratórios mais indicados para se procederem as análises dessas mesmas amostras. Na altura a equipe moçambicana foi informada sobre o fenómeno do encalhamento de mamíferos marinhos que tem estado a ocorrer em diferentes partes do globo e de que em muitos casos não tem sido possível determinar as causas.

Os casos menos difíceis de comprovar as causas relacionam-se com: a pesca excessiva; a  poluição dos mares por plástico; a poluição sonora resultante do incremento do tráfego no mar ou de passagem recente de submarinos militares; as actividades sísmicas associadas à pesquisa / exploração de hidrocarbonetos; o desenvolvimento industrial, incluindo a construção de portos; as mudanças climáticas, eventos extremos como ciclones e a consequente alteração da dieta dos animais marinhos; e os maremotos.

Do trabalho pericial realizado (ao local e o exame dos animais) foi possível constatar o seguinte:

  • Não existirem sinais de mutilação dos animais ou de contaminação por hidrocarbonetos visíveis ;
  • Os golfinhos se encontravam na parte oeste da Ilha de Bazaruto (área com profundidade que varia entre os 3 e os 7 metros) onde normalmente não têm o hábito de entrar, tendo possivelmente ocorrido uma “anomalia de navegação” ;
  • 23% dos golfinhos tinham o estômago vazio o que indica que parte dos 111 golfinhos não estava a alimentar-se no local ;
  • A morte dos golfinhos resultou do encalhamento (Beaching) durante a maré baixa ;
  • Na altura da ocorrência, não tinha havido quaisquer pesquisas sísmicas na região;
  • A morte dos golfinhos ocorreu durante ou pouco depois da passagem do ciclone Guambe na área ;
  • Que fenómeno semelhante tinha sido registado pelos habitantes da Ilha em 1997 e em 2006, tendo envolvido um número menor de animais naqueles dois casos.

Para se aprofundar o estudo das causas desta mortalidade de acordo com as recomendações dos especialistas foram colhidas amostras que serão enviadas para laboratórios especializados dentro e fora do país.

Das duas espécies de golfinhos que ocorrem em Moçambique, a sinistrada é uma espécie oceânica que se desloca para o mar aberto durante a noite para se alimentar (em profundidades que variam entre os 10 e os 50 metros) e que durante o dia vem para perto da costa para descansar, em áreas com profundidade de até 20 metros. É uma espécie relativamente abundante, e amplamente distribuída ao longo do Canal de Moçambique, cuja população é estimada entre 10 a 15 mil indivíduos e não consta da lista de espécies em perigo de extinção.

Esta missão teve o apoio do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB) e do parceiro de co-gestão do Parque, a African Parks, que trabalha em estreita coordenação com o Governo de Moçambique para ajudar a identificar a causa do encalhamento em massa. O PNAB é gerido no âmbito de um Acordo de parceria Público-Privada que foi assinado em Dezembro de 2017 entre o Governo de Moçambique, representado pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) e a African Parks. A African Parks é uma organização sem fins lucrativos de conservação que assume plena responsabilidade pela reabilitação e gestão a longo prazo de parques nacionais e áreas protegidas em parceria com governos e comunidades locais.   

No Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB) para além da ocorrência de mamíferos marinhos tais como dugongos, baleias, golfinhos e outros, proporcionada pela combinação de águas rasas e profundas, bem como pela disponibilidade de nutrientes e tranquilidade da zona, foi registada a ocorrência de 180 espécies de aves, 45 de répteis, 16 de mamíferos terrestres, 500 de moluscos marinhos e costeiros, e 2000 espécies de peixe.

O Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB), situado na província de Inhambane, possui uma área de 1.430km2 e foi criado a 25 de Maio de 1971 sendo o primeiro parque marinho no país.